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Carbono: A crise venceu o ambiente?

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Carbono: A crise venceu o ambiente?

Numa Europa que garantiu sempre a liderança mundial no combate às alterações climáticas, o chumbo do Parlamento Europeu às alterações ao CELE (Mercado Europeu de Licenças de Emissão) foi o primeiro grande revés deste mecanismo de fomento à economia verde europeia e o primeiro grande sinal de que, para Bruxelas, competitividade industrial não é sinónimo de ambiente.

A rejeição da proposta de “backloading” da Comissão Europeia (que previa, sobretudo, a suspensão do leilão de 900 mil licenças de emissão para o período 2013-2015, de forma a introduzir artificialmente um equilíbrio entre oferta e procura e, consequentemente, aumentar o preço do carbono) chocou sobretudo os ambientalistas. Em Portugal, a Quercus apelidou a proposta de «vital» para a política climática europeia e apontou o dedo aos eurodeputados portugueses que votaram contra o documento da Comissão.

Nos prós e contras do hemiciclo, ficou patente que, depois de tanta promoção ao “crescimento verde”, a maioria dos eurodeputados opõe-se (ou pelo menos tem sérias dúvidas) à ideia de que a aposta no ambiente e em tecnologias limpas seja o motor para a recuperação europeia. Um preço maior do carbono vai prejudicar uma indústria europeia em crise, foi um dos argumentos mais ouvidos.

E nem a falecida Margaret Thatcher, antiga primeira-ministra britânica, foi poupada ao debate climático. Dois antigos ministros do Ambiente britânicos, Tim Yeo e John Gummer, apelaram ao voto a favor dos eurodeputados conservadores do Reino Unido, dizendo que a medida da Comissão reforça o mercado do carbono e «é o que Margaret Thatcher quereria», uma vez que sempre apoiou que todas as soluções fossem soluções de mercado. Mas esta é exactamente outras das questões que levantou polémica no hemiciclo: até que ponto esta proposta da União Europeia não é uma intervenção grosseira num mecanismo que devia funcionar apenas com base na oferta e procura do mercado?

Nas palavras do especialista no CELE da Thomson Reuters Point Carbon, Stig Schjølset, «o “backloading” está agora politicamente morto». O documento volta agora à comissão parlamentar da especialidade, para uma nova ronda de negociações, mas muito terá que ser mudado na proposta da Comissão para que reúna maior consenso em plenário.

E, se o “backloading” está morto, o que podemos esperar do próprio CELE? A crise desajustou a procura e oferta no mercado de licenças de emissão. A crise bloqueia, de forma indirecta, o aumento artificial do preço por licença. Restará ao projecto pioneiro da União em matéria climática assumir a derrota? É que, numa mesa de negociações mundial em que os blocos mais fortes são renitentes em assumir metas ambiciosas de combate climático, o fracasso assumido do CELE irá dar que falar.


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