Luz Divina
GF Ouro
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Blooms de Cianobactérias

Cada vez se torna mais comum, à superfície das lagoas e albufeiras, a ocorrência de grandes massas de algas - são as florescências de cianobactérias, mais conhecidas por blooms, que podem ter efeitos graves nos ecossistemas aquáticos.
As cianobactérias, anteriormente designadas por algas azuis, são um grupo primitivo de seres vivos, cujos componentes possuem uma estrutura celular procariota, como as bactérias. São organismos microscópicos fotoautotróficos, pertencentes ao fitoplâncton de águas doces, unicelulares, embora possam formar colónias filamentosas, tornando-se perceptíveis à "vista desarmada". Típicas de ecossistemas dulçaquícolas eutrofizados (com muitos nutrientes), as cianobactérias ocorrem especialmente em águas com velocidade de corrente pequena ou nula, como é o caso de lagoas e albufeiras. No entanto, podem também ocorrer em águas correntes, desde que existam locais de águas mais paradas. Podem desenvolver-se em grandes densidades, provocando as florescências, mais comumente conhecidas por blooms.

As consequências destas "explosões" de micro-algas são bastante diversificadas. Por um lado, a acumulação na superfície de grandes massas de cianobactérias diminui a radiação luminosa que atinge as águas mais profundas e, assim, é alterado todo o ecossistema em termos de produtividade. Por outro lado, no final do Verão, com a diminuição da temperatura e da intensidade e duração da luminosidade, coincidente, na maioria dos casos, com uma depleção dos nutrientes disponíveis na coluna de água, ocorre o colapso das florescência, o que significa que enormes quantidades de matéria orgânica são disponibilizadas, estimulando o crescimento de bactérias quimioheterotróficas, que a decompõem, consumindo, para isso, oxigénio. É por este motivo que se atribui a este colapso a desoxigenação das águas, responsável por elevadas mortalidades nas populações de animais aquáticos.

Mas o efeito mais grave resultante do desenvolvimento de blooms de cianobactérias é a produção de toxinas. Embora ainda mal definida, segundo alguns autores, esta produção não é mais do que um mecanismo defensivo contra o zooplâncton e outros herbívoros, garantindo aos produtores fraca apetência alimentar devida à toxicidade acumulada nas células, à semelhança do que fazem as plantas vasculares ao produzirem taninos, fenóis e outras substâncias para se protegerem da herbivoria. Deste modo, embora não contaminem o zooplâncton, aquando da morte das células por processos naturais, estas substâncias tóxicas são libertadas, e os seus efeitos podem ser dramáticos.

De acordo com estes efeitos, as toxinas podem ser classificadas em três categorias: neurotóxicas, hepatotóxicas e irritantes ao contacto. As neurotoxinas actuam ao nível da transmissão dos impulsos nervosos, e podem provocar a morte por paragem respiratória, devido à paralisia muscular. As hepatotoxinas são responsáveis por lesões ao nível do fígado, podendo mesmo conduzir à morte por hemorragia intra-hepática e choque hipovolémico. Em doses não letais, estas toxinas tem sido relacionadas com o desenvolvimento de tumores, pois atribuem-se-lhes efeitos carcinogénicos. Apesar de não serem letais para os organismos, pois não são tão perigosas como as neuro e hepatotixas, as toxinas irritantes ao contacto são igualmente compostos bioactivos, que podem lesar as células.
Os animais mais afectados pelas cianobactérias tóxicas são os aquáticos (peixes, zooplâncton e macroinvertebrados), podendo ocorrer mortandades devido quer às toxinas, quer à desoxigenação das águas. Estas elevadas mortalidades vão contribuir para o agravamento da qualidade da água, pela sobrecarga de compostos azotados e fosfatados resultantes da decomposição desta matéria orgânica. Os animais que utilizem fontes de água contaminada podem, do mesmo modo, ser afectados apresentando, principalmente, distúrbios do foro hepático, gastrointestinal, neurológico e alérgico, que podem conduzir à morte. A sintomatologia é diversa, dependendo sempre da intensidade da contaminação e do tipo de toxina em questão.

A inalação e o contacto podem ocorrer acidentalmente ou na prática de desportos aquáticos. A inalação pode produzir sintomas tipo alérgico semelhantes à "febre dos fenos", como rinite, conjuntivite e dispneia ou bronquite aguda. O contacto pode desencadear irritação ocular, conjuntivite, dermatite, obstrução nasal, asma, podendo mesmo provocar queimaduras na pele.
A ingestão acidental de água com doses elevadas de toxinas pode provocar intoxicações agudas, caracterizadas por um quadro de gastroenterite com diarreias, vómitos, náuseas, cólicas abdominais e febre, ou hepatite com anorexia, astenia e vómitos. A ingestão continuada de baixas doses de toxinas pode trazer alterações hepáticas crónicas. Estas situações podem ser também desencadeadas pela ingestão de moluscos, que como filtradores que são, acumulam nos seus tecidos doses não letais destes produtos, que são passados ao longo das cadeias alimentares, cujo elo final pode ser o Homem.

Tendo em conta que em Portugal se observa uma acelerada eutrofização das massas de água utilizadas para consumo e recreio, torna-se necessário a elaboração de um plano nacional eficaz de monitorização das cianobactérias e suas toxinas, com vista a prevenir intoxicações, quer animais, quer humanas. Esta prevenção passa pelo controlo do estado trófico das águas, por evitar o contacto com florescências, através de campanhas de sensibilização, e pelo tratamento da água para consumo.

Actualmente os esforços a serem desenvolvidos neste âmbito concentram-se nos aspectos da vigilância, acompanhamento e depuração, e nos aspectos mais básicos de compreensão geral dos fenómenos e possibilidade da sua previsão, para que os objectivos de prevenção sejam alcançados.
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