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Hoje acaba a ceifa. Anita ajuda o dono da quinta a arrumara palha. Ao sentar-se para descansar um pouco, um pequenino nariz, muito cor-de-rosa, desperta-lhe a atenção. Oh! É um coelhinho bravo, cheio de medo. Só se lhe vê a cabeça a aparecer num montinho de palha.
- Coitadinho de ti! - diz a Anita ao tirá-lo para fora. - Isto foi um milagre! Como é que conseguiste escapar às lâminas da máquina?
Mas agora não tenhas medo: vais para casa comigo e vou pôr-te o nome de Pimpim.
- Que amoroso! - diz a mãe da Anita. - Mas olha que ele deve ter fome!
- Vou buscar um biberão - sugere a Anita. - O da minha boneca deve servir.
O Pimpim cresce depressa e não larga a Anita, que se diverte imenso a brincar com ele.
João e Sofia, os vizinhos da Anita, trazem todos os dias comida para o Pimpim: dentes-de-leão, cascas de maçã, vagens de ervilhas…
- Olha, a ponta da orelha é azul - nota a Sofia. - Podia-se chamar o Azulinho.
- Que triste está hoje o Pimpim - observa o João.
- É verdade - concorda a Anita. - Começo a ficar preocupada… Há já alguns dias que ele perdeu o apetite, não brinca e já nem se quer lavar!
- Parece-me que ele precisa de andar à solta - diz a Sofia.
<!–[if !supportLists]–>- <!–[endif]–>O Pimpim não é um coelho doméstico, é um coelho bravo - acrescenta o João. - Não gosta de estar preso. Era melhor soltá-lo.
- Eu sei - diz a Anita -, mas não o podemos soltar num sítio qualquer! O avô já muitas vezes me lembrou que, quando começamos a tratar de um animal, ficamos responsáveis por ele!
Depois do pequeno-almoço a Anita pôs-se a caminho da floresta. Quando lá chegou, um rebuliço despertou-lhe a atenção:
- Olha, Pimpim! É a dança dos chapins! Todos os anos, por esta altura, reúnem-se em bandos: os chapins-carvoeiros, os chapins-azuis, os chapins-reais, os chapins-de-poupa… e até mesmo as carriças entram na roda!
Todos juntos debicam os frutos dos arbustos e enchem-se de insectos. Não achas maravilhoso? Vais gostar muito de viver aqui! Vês aquela cancela no fim do atalho? É ali que começa a floresta!
O gaio, esse palrador, que vê tudo e tudo ouve, é o primeiro a avistar a Anita.
- Estou a ver um caçador! Tem um ar feroz. Já apanhou um coelho e tudo! - grita ele.
De repente, a floresta pára:
- Vamo-nos esconder! - aconselha a raposa.
<!–[if !supportLists]–>- <!–[endif]–>Fujamos! - diz a corça.
- Olhem que não é um caçador - assegura o pisco. - É a Anita! Conheço-a muito bem!
Oferece-me sempre minhocas deliciosas, na Primavera, quando vai jardinar.
Aos poucos acalmam-se os ânimos.
- Falso alerta! - grita o gaio. - É uma amiga. Não tenham medo.
- É verdade - concorda o chapim. - No Inverno, ‘ela dá-nos sementes e migalhas de pão.
- Vamos seguir o riacho - propõe a Anita. -Assim não nos perdemos. Atenção, podes escorregar!… Olha, Pimpim - acrescenta a Anita, muito entusiasmada. - Pegadas de texugo! Contaram-me que um texugo uma noite desceu à aldeia, andou a roubar as vinhas e empanturrou-se de uvas! Ao ver aquela penca preta e aquele grande traseiro, o Tio Martinho confundiu-o com um urso e apanhou um susto. E estas marcas no lodo? Estou a reconhecê-las: O avô mostrou-me umas iguais na capoeira, o ano passado; são pegadas de doninha, que sai de noite para atacar as galinhas! É melhor não ficarmos aqui, é um sinal perigoso para os coelhinhos.
- Quando penso nos perigos que terias corrido se te tivesse deixado vir sozinho até sinto arrepios! Depressa, vamos embora, e - quietinho! - não te voltes para trás: um gato-bravo está a observar-nos!
- Podíamos parar aqui - propõe a Anita.
Mas mal acaba de dizer isto um grupo de javalis surge do lamaçal soltando grunhidos. Anita e Pimpim fogem em direcção a um tronco atravessado sobre o riacho.
- Vem, Pimpim! Vá, mais depressa! Eles aqui já não nos podem seguir!
- Uf! Já estamos do outro lado.
Nunca pensei que me custasse tanto deixar-te entregue à Natureza - suspira a Anita, um pouco desanimada.
Anita e Pimpim observam atentamente uma pequena pluma avermelhada: é um esquilo com a cauda levantada, como um penacho, agarrado a uma pinha.
De repente, abandona a pinha e desaparece nas alturas. Na clareira, um grupo de caçadores avança. Sem perder um segundo, Anita foge na direcção contrária.
Afogueada, chega a outra clareira onde os veados brincam com as corças. O grande veado, de hastes imponentes, inclinando a cabeça para trás, brama aos quatro ventos. À sua volta as corças estremecem.
- Fujam! Fujam! Vêm aí os caçadores! - grita a Anita.
-Num abrir e fechar de olhos os veados desaparecem, cada um para seu lado.
- Começo a achar a floresta um sítio muito perigoso para um coelhinho como tu - observa a Anita, já desesperada por não encontrar um lugar ideal para o Pimpim.
De repente, um barulho ao longe fá-la virar-se para trás. É o Julião, o lenhador, que anda a desbravar terreno. - Se lhe fôssemos pedir ajuda? - propõe a Anita. - Ele conhece bem a floresta e pode indicar-nos um sítio seguro. Vamos até lá!
- Olha a minha amiga Anita! Que fazes aqui? - Pergunta Julião. - Devia ralhar contigo! Não é boa ideia andares a passear sozinha.
- Ando à procura de um cantinho seguro para deixar o meu
querido Pimpim. - explica a Anita, contando-lhe depois a história do coelhinho.
- Conheço um bom sítio no fim da floresta - diz Julião. - Se não tens medo, salta para o tractor. O meu dia de trabalho está a chegar ao fim, eu levo-te até lá. Pelo caminho, Julião explica a Anita:
- O melhor lugar para o Pimpim é uma tapada onde possa encontrar outros coelhos.
- Olha estas tocas! Já viste que há amoras aqui? Vais-te regalar! O sítio não podia ser melhor! exclama a Anita.
Anita pôs o Pimpim em cima de um tronco e agora faz-lhe as últimas recomendações:
- Tem cuidado, Pimpim. Não te aventures mais pela floresta. Evita o bufo e o falcão, desconfia do gavião, da fuinha, do tourão e da raposa. Eu venho visitar-te depois. Fica prometido!
O Sol põe-se. Anita tem de retomar o caminho para casa. Pimpim, imóvel, vê-a afastar-se.
Ao deixar a Anita no lugar onde acaba a floresta e começam os campos, Julião obrigara-a a prometer que voltaria para casa antes do cair da noite.
Meses depois, numa manhã de Dezembro, a Anita vai de visita à tapada. A Natureza tirita sob um manto de geada. Os lenhadores conversam, sentados à volta de uma fogueira.
Anita continua o seu caminho, fazendo estalar sob os pés as folhas geladas.
- Pimpim! Pimpim! - chama a Anita. Assustada pelos gritos, uma multidão de coelhos escapa-se pela tapada.
Anita ia jurar que viu uma ponta da orelhinha azul a correr por entre as ervas.
- Ao menos, podia ter dado os bons-dias! - pensa a Anita, arreliada. - Não faz mal! Não me vou pôr a chorar por causa de um coelhinho sem importância.
FIM DO LIVRO
- Coitadinho de ti! - diz a Anita ao tirá-lo para fora. - Isto foi um milagre! Como é que conseguiste escapar às lâminas da máquina?
Mas agora não tenhas medo: vais para casa comigo e vou pôr-te o nome de Pimpim.
- Que amoroso! - diz a mãe da Anita. - Mas olha que ele deve ter fome!
- Vou buscar um biberão - sugere a Anita. - O da minha boneca deve servir.
O Pimpim cresce depressa e não larga a Anita, que se diverte imenso a brincar com ele.
João e Sofia, os vizinhos da Anita, trazem todos os dias comida para o Pimpim: dentes-de-leão, cascas de maçã, vagens de ervilhas…
- Olha, a ponta da orelha é azul - nota a Sofia. - Podia-se chamar o Azulinho.
- Que triste está hoje o Pimpim - observa o João.
- É verdade - concorda a Anita. - Começo a ficar preocupada… Há já alguns dias que ele perdeu o apetite, não brinca e já nem se quer lavar!
- Parece-me que ele precisa de andar à solta - diz a Sofia.
<!–[if !supportLists]–>- <!–[endif]–>O Pimpim não é um coelho doméstico, é um coelho bravo - acrescenta o João. - Não gosta de estar preso. Era melhor soltá-lo.
- Eu sei - diz a Anita -, mas não o podemos soltar num sítio qualquer! O avô já muitas vezes me lembrou que, quando começamos a tratar de um animal, ficamos responsáveis por ele!
Depois do pequeno-almoço a Anita pôs-se a caminho da floresta. Quando lá chegou, um rebuliço despertou-lhe a atenção:
- Olha, Pimpim! É a dança dos chapins! Todos os anos, por esta altura, reúnem-se em bandos: os chapins-carvoeiros, os chapins-azuis, os chapins-reais, os chapins-de-poupa… e até mesmo as carriças entram na roda!
Todos juntos debicam os frutos dos arbustos e enchem-se de insectos. Não achas maravilhoso? Vais gostar muito de viver aqui! Vês aquela cancela no fim do atalho? É ali que começa a floresta!
O gaio, esse palrador, que vê tudo e tudo ouve, é o primeiro a avistar a Anita.
- Estou a ver um caçador! Tem um ar feroz. Já apanhou um coelho e tudo! - grita ele.
De repente, a floresta pára:
- Vamo-nos esconder! - aconselha a raposa.
<!–[if !supportLists]–>- <!–[endif]–>Fujamos! - diz a corça.
- Olhem que não é um caçador - assegura o pisco. - É a Anita! Conheço-a muito bem!
Oferece-me sempre minhocas deliciosas, na Primavera, quando vai jardinar.
Aos poucos acalmam-se os ânimos.
- Falso alerta! - grita o gaio. - É uma amiga. Não tenham medo.
- É verdade - concorda o chapim. - No Inverno, ‘ela dá-nos sementes e migalhas de pão.
- Vamos seguir o riacho - propõe a Anita. -Assim não nos perdemos. Atenção, podes escorregar!… Olha, Pimpim - acrescenta a Anita, muito entusiasmada. - Pegadas de texugo! Contaram-me que um texugo uma noite desceu à aldeia, andou a roubar as vinhas e empanturrou-se de uvas! Ao ver aquela penca preta e aquele grande traseiro, o Tio Martinho confundiu-o com um urso e apanhou um susto. E estas marcas no lodo? Estou a reconhecê-las: O avô mostrou-me umas iguais na capoeira, o ano passado; são pegadas de doninha, que sai de noite para atacar as galinhas! É melhor não ficarmos aqui, é um sinal perigoso para os coelhinhos.
- Quando penso nos perigos que terias corrido se te tivesse deixado vir sozinho até sinto arrepios! Depressa, vamos embora, e - quietinho! - não te voltes para trás: um gato-bravo está a observar-nos!
- Podíamos parar aqui - propõe a Anita.
Mas mal acaba de dizer isto um grupo de javalis surge do lamaçal soltando grunhidos. Anita e Pimpim fogem em direcção a um tronco atravessado sobre o riacho.
- Vem, Pimpim! Vá, mais depressa! Eles aqui já não nos podem seguir!
- Uf! Já estamos do outro lado.
Nunca pensei que me custasse tanto deixar-te entregue à Natureza - suspira a Anita, um pouco desanimada.
Anita e Pimpim observam atentamente uma pequena pluma avermelhada: é um esquilo com a cauda levantada, como um penacho, agarrado a uma pinha.
De repente, abandona a pinha e desaparece nas alturas. Na clareira, um grupo de caçadores avança. Sem perder um segundo, Anita foge na direcção contrária.
Afogueada, chega a outra clareira onde os veados brincam com as corças. O grande veado, de hastes imponentes, inclinando a cabeça para trás, brama aos quatro ventos. À sua volta as corças estremecem.
- Fujam! Fujam! Vêm aí os caçadores! - grita a Anita.
-Num abrir e fechar de olhos os veados desaparecem, cada um para seu lado.
- Começo a achar a floresta um sítio muito perigoso para um coelhinho como tu - observa a Anita, já desesperada por não encontrar um lugar ideal para o Pimpim.
De repente, um barulho ao longe fá-la virar-se para trás. É o Julião, o lenhador, que anda a desbravar terreno. - Se lhe fôssemos pedir ajuda? - propõe a Anita. - Ele conhece bem a floresta e pode indicar-nos um sítio seguro. Vamos até lá!
- Olha a minha amiga Anita! Que fazes aqui? - Pergunta Julião. - Devia ralhar contigo! Não é boa ideia andares a passear sozinha.
- Ando à procura de um cantinho seguro para deixar o meu
querido Pimpim. - explica a Anita, contando-lhe depois a história do coelhinho.
- Conheço um bom sítio no fim da floresta - diz Julião. - Se não tens medo, salta para o tractor. O meu dia de trabalho está a chegar ao fim, eu levo-te até lá. Pelo caminho, Julião explica a Anita:
- O melhor lugar para o Pimpim é uma tapada onde possa encontrar outros coelhos.
- Olha estas tocas! Já viste que há amoras aqui? Vais-te regalar! O sítio não podia ser melhor! exclama a Anita.
Anita pôs o Pimpim em cima de um tronco e agora faz-lhe as últimas recomendações:
- Tem cuidado, Pimpim. Não te aventures mais pela floresta. Evita o bufo e o falcão, desconfia do gavião, da fuinha, do tourão e da raposa. Eu venho visitar-te depois. Fica prometido!
O Sol põe-se. Anita tem de retomar o caminho para casa. Pimpim, imóvel, vê-a afastar-se.
Ao deixar a Anita no lugar onde acaba a floresta e começam os campos, Julião obrigara-a a prometer que voltaria para casa antes do cair da noite.
Meses depois, numa manhã de Dezembro, a Anita vai de visita à tapada. A Natureza tirita sob um manto de geada. Os lenhadores conversam, sentados à volta de uma fogueira.
Anita continua o seu caminho, fazendo estalar sob os pés as folhas geladas.
- Pimpim! Pimpim! - chama a Anita. Assustada pelos gritos, uma multidão de coelhos escapa-se pela tapada.
Anita ia jurar que viu uma ponta da orelhinha azul a correr por entre as ervas.
- Ao menos, podia ter dado os bons-dias! - pensa a Anita, arreliada. - Não faz mal! Não me vou pôr a chorar por causa de um coelhinho sem importância.
FIM DO LIVRO